Confraria Ciranda Poetrix

Conjunto de pessoas de uma mesma categoria, ou da mesma profissão / ofício, com os mesmos interesses e objetivos. Tão simples de entender! Pessoas afins se unem para aprimorar habilidades, conceitos, atitudes, comportamentos em benefício próprio e de todos. Resgatar valores e cultivá-los é uma meta interessante.

No nosso caso, optamos por transformar o antigo Grupo CIRANDA POETRIX em CONFRARIA CIRANDA POETRIX. Teoricamente, nada muda. Continuamos com o objetivo de estudar e divulgar o Poetrix. Acrescentamos o “produzir com qualidade, sem perder a poeticidade”. Filosoficamente falando, a nossa missão ganha uma maior dimensão. Teremos o aspecto de aprimoramento humano dentro desse contexto poético. Queremos viver a fraternidade cósmica, a partir de um determinado número de poetas visionários que somos e/ou seremos, além da poesia, ultrapassar muros, possibilitando a todas as pessoas que nos lerem serem tocadas pelo desejo de transformação da sociedade que temos hoje. O nosso ideal é grande, ousado, uma utopia a ser buscada com muita responsabilidade, desafios, seriedade, reflexões, estudo; exercícios diários através da feitura do poetrix em ciranda. Entretanto, temos a preocupação de responder a questões fundamentais. Votamos o nome, mas isso foi consciente? É isso mesmo que queremos e estamos dispostos a realizar? Para facilitar as nossas respostas, pensamos em construir "nossa casa", usando 4 PILARES PARA A CONFRARIA:

1 – Aprender a conhecer:

Esse pilar envolve o ato de compreender, descobrir ou construir o conhecimento. Mais do que adquirir saberes, os poetrixtas devem ter interesse real pela forma e conteúdo, receber informações pertinentes, sentir prazer em aprender e se aprimorar constantemente.

É importante o estudo, a leitura de bons Poetrix, o incentivo à pesquisa individual para desenvolver o senso crítico e despertar a curiosidade intelectual e poética. Com isso, promove-se a autonomia, tornando o poetrixta capaz de ter discernimento e fazer sua autoavaliação, bem como saber avaliar os Poetrix de outros.

Para que o processo de descoberta seja eficiente é preciso exercitar ainda, a atenção, a memória e o pensamento. Teremos como referência a forma do poetrix, criada pelo baiano Goulart Gomes, ou seja, título e três versos em até 30 sílabas métricas, sendo que no título não há limite de sílabas. No conteúdo, a Bula Aplicada, aceita e referendada pelos membros da Confraria.

2 – Aprender a fazer:

Além de obter conhecimento teórico, os poetrixtas precisam colocá-lo em prática. Mobilizando suas habilidades cognitivas e expressões poéticas, devem estar aptos a:

Fazer escolhas; pensar criticamente e poeticamente; lapidar, “oficinar”, utilizando parcerias (duotrix) para se chegar a um Poetrix com mais beleza e qualidade;

Observar atentamente os Poetrix considerados ótimos pelos entendedores. O que esses têm a mais para assim serem considerados.

Suportes técnicos e administrativos:

Agenda Ciranda Poetrix, grupo anexo, onde serão postadas todas as orientações pertinentes ao funcionamento da Confraria.

Oficina Permanente de Poetrix, outro anexo, para o estudo, exercício e lapidação do Poetrix, com atividades planejadas e monitoradas.

 Comissão de Conteúdo, para discutir e tomar todas as decisões relativas ao que, e como, se quer, se pratica e se divulga, o que faz a Confraria em relação à expressão poética Poetrix.

Ressaltamos que a tarefa básica e prioritária será a de:

Uniformizar entendimento,  compreensão e olhar crítico, segundo e conforme estabelece a Bula Aplicada.

3 – Aprender a conviver:

Saber conviver em confraria é se colocar no lugar do outro, fator-chave para a harmonia. Esse pilar, portanto, gira em torno do aprendizado da não-violência, em que a hostilidade dá lugar ao espírito colaborativo. "Um por todos, todos por um".

Descobrir que o outro é diferente e, ao mesmo tempo, encarar essa diversidade como algo rico é o que torna a convivência mais leve e permite criar laços afetivos. Junto a isso, há o fortalecimento da empatia, da tolerância e do respeito.

Para esse aprendizado, é importante que incentivemos uns aos outros a realizarmos projetos de cooperação. Dessa forma, exercitamos o lidar com conflitos e buscar maneiras de resolvê-los de forma pacífica. Regra de ouro: "não fazer ao outro o que não quero que façam comigo". Um bom exercício é se calar em momentos de desentendimentos. Fico sempre repetindo que toda atitude e/ou palavras ditas no calor da hora podem derrubar um projeto que teria tudo para dar certo. Pensar, ponderar, contar até quanto for preciso, 10, 20, 50, 100... para restabelecer a calma, o equilíbrio emocional, possibilitando o diálogo construtivo.

4 – Aprender a ser:

Está relacionado ao desenvolvimento do "ser humano" como um todo. No caso, todos precisam estar aptos a pensar de forma crítica e autônoma, e serem capazes de formar seu próprio juízo de valor.

Os fatores-chave deste aprendizado são: elucidação análise, fazer relações, conexões; criatividade, sensibilidade, responsabilidade, pensamento crítico, pensamento poético; ética, compromisso, vontade.

Tal pilar incentiva, ainda, a diversidade de personalidades e talentos – evitando que haja algum padrão de comportamento a ser seguido. Para isso, é essencial que vivenciemos ocasiões que permitam descobertas, escolhas, tomada de decisões.

Desta forma, é possível descobrir o meu, o nosso, potencial, para crescermos cada vez mais em nosso mister, e possamos, enquanto CONFRARIA contribuir para o desenvolvimento de todos, sem exceção.

*(Inspirei-me no texto: "Os pilares da educação da UNESCO", elaborados em 1999, por Jacques Delors, professor político e econômico francês. Publicado no relatório: “Educação: um tesouro a descobrir”, e nas reuniões teóricas, debates ocorridos periodicamente pelos diretores).

Elizabeth Iacomini  - Membro da Confraria Ciranda  Poetrix 
 



BULA APLICADA POETRIX
 
 
POETRIX (s.m.): poema conciso, portanto minimalista, com título e um máximo de trinta sílabas métricas, distribuídas em apenas uma estrofe de três versos, composto por ao menos um dos seguintes elementos*: Salto, Susto, Semântica, Leveza, Rapidez, Exatidão, Visibilidade, Multiplicidade, Consistência, onde: 
 
SALTO: é a metamorfose da ideia inicial, provocada no segundo ou terceiro verso da estrofe, acrescida de outros significados, permitindo uma nova perspectiva de compreensão do poetrix; 
 
SUSTO: é o elemento inusitado e imprevisível que provoca surpresa ao leitor; é a fuga do lugar-comum, da obviedade, que desconstrói e amplia horizontes, mostrando outros caminhos, possibilidades, contextos; 
 
SEMÂNTICA: exploração da polissemia de determinadas palavras ou expressões, permitindo a possibilidade de variadas leituras ou interpretações; 
 
LEVEZA: jeito multifacetado de utilização da linguagem. Nesse sentido, o uso de imagens sutis deve trazer leveza, precisão e determinação ao poetrix e, com isso, provocar, no leitor, a abertura de renovadas construções mentais impregnadas de imprecisões e indeterminações, de novas possibilidades de interpretar a realidade, de desanuviar a opacidade do mundo. 
 
RAPIDEZ: máxima concentração da poesia e do pensamento; agilidade, mobilidade, desenvoltura; busca da frase em que todos os elementos sejam insubstituíveis, do encontro de sons e conceitos que sejam os mais eficazes e densos de significado; 
 
EXATIDÃO: busca de uma linguagem que seja a mais precisa possível como léxico e em sua capacidade de traduzir as nuanças do pensamento e da imaginação; 
 
VISIBILIDADE: qualidade de expressar e pensar imagens, colocando visões em foco; reflexo da qualidade imagética do poetrix, em cor, sombra, contorno e perspectiva; é o substantivar da poesia; 
 
MULTIPLICIDADE:  expressão da pluralidade de possibilidades intertextuais e polissêmicas,  provocando interações e (re)criando formas; 
 
CONSISTÊNCIA: através da fuga das obviedades, dos lugares-comuns, buscando se expressar de forma original, quando o Poetrix rompe, naturalmente, com antigos esquemas simplificantes e reducionistas e investe num sistema complexo, cujas categorias são opostas à simplicidade: a complexidade, a desordem e a caoticidade, próprias de sistemas não lineares, capazes de realizar trocas com o meio envolvente. 
 
 
Na composição do Poetrix, utilizando o que for mais adequado e melhor se conforme ao conteúdo e/ou mensagem pretendidos, o poetrixta DEVE: 
 
• Explorar as diversas possibilidades que o título dá ao autor, uma vez que é ele quem dá mote e significado ao texto, não sendo considerado na sua métrica. 
 
• Transmitir a mais completa mensagem em um menor número possível de palavras e sílabas. 
 
• Utilizar metáforas, neologismos, tropos, imagens e outras figuras de linguagem na sua 
composição. 
 
• Propiciar interação autor/leitor provocada por mensagens subliminares ou lacunas textuais. 
 
• Promover a multiplicidade de sentidos e/ou emoções, não se atendo necessariamente a um único significado. 
 
• Utilizar indistintamente os tempos verbais pretérito, presente e futuro. 
 
• Provocar interação entre o autor, as personagens e o fato observado, através da criação, inclusive, de condições supra reais, cômicas ou ilógicas (nonsense). 
 
• Não utilizar a rima metrificada, especialmente posta em fim de verso, bem explorando o ritmo e a sonoridade, sempre lembrando que no Poetrix não há rigor na distribuição métrica dos versos. 
 
• Não menosprezar a inteligência e a perspicácia do leitor, na indução do entendimento de significados e sentidos, empregando aspas, barras, parênteses ou outros caracteres especiais como pontuação de ênfase, todos não cabíveis em um texto conciso. 
 
• Não dispor verso cuja continuidade se dê no adjacente para ser frase de completo sentido. 
 
 * inspirados nas Seis Propostas para o Próximo Milênio, de Ítalo Calvino 
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